quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Grandes tradutores

A arte da tradução é valorizada em muitas partes do mundo. Infelizmente, no Brasil, o tradutor ainda é visto como um reles técnico ou, pior ainda, um digitador que "digita em outra língua". Para tentar reverter esta situação e superar o preconceito, daremos destaque a grandes tradutores do passado e presente neste Blog, começando com...



Charles Baudelaire,
 o grande poeta francês, autor de As flores do mal, também foi tradutor. Traduziu a obra do autor estadounidense Edgar Allan Poe para o francês entre 1852 e 1865. Baudelaire considerava Poe sua "alma gêmea". Por algum motivo, os trabalhos lúgubres de Edgar Allan Poe fazem mais sucesso na França do que no seu próprio país. Sem dúvida, a qualidade da tradução foi um fator importante nesta façanha.

Tradutor - traidor

 

Othon Guerlac foi o primeiro a solicitar os direitos para traduzir Up from Slavery e sua tradução para o francês foi lançada 18 meses depois. Mas, antes disso, a autobiografia de Washington já tinha sido publicada em espanhol cubano. Também foi traduzida para o alemão, norueguês, sueco, espanhol cubano. Também foi traduzida para o alemão, norueguês, sueco, dinamarquês, holandês, finlandês, espanhol e russo, e houve notícias de edições em árabe, zulu, hindi, malaio, chinês e japonês. Saiu ainda em Braille em 1903.

Graciliano Ramos é mais conhecido no Brasil como o autor de Vidas secas. Apesar de ser um escritor de renome, sua abordagem à arte da tradução era mais mercenária que literária. Segundo seu biógrafo Dênis de Moraes, ele cedeu mais de uma vez “à tentação de endireitar a prosa alheia”:

Já ao traduzir Memórias de um negro em 1940, dizimara dois capítulos de Booker Washington e eliminara, sem piedade, períodos inteiros. E ainda vangloriava-se da façanha:

– O homem vinha direito, umas observações ótimas, de repente se estrepava todo. A todo instante, repetia ideias, usava palavras desnecessárias, fazia círculos de peru. Cortei uma infinidade de asneiras, e ainda ficaram muitas. Negro burro.


Fonte: Gledhill, Sabrina. Travessias no Atlântico Negro: reflexões sobre Booker T. Washington e Manuel R. Querino. Salvador: Edufba, 2020, p. 193-194.